Domingos Barbosa, investigador do Instituto de Telecomunicações que tem supervisionado o processo, confirmou hoje à Exame Informática que o Parlamento Europeu inseriu ontem o financiamento do Square Kilometre Array Telespcope (SKA) no documento do novo Programa Quadro Europeu, que define estratégias e investimentos da UE entre 2014 e 2020. Esta aprovação significa que uma das bases de ensaios do maior e mais potente radiotelescópio do mundo vai ficar instalada no Concelho de Moura – mais precisamente na Herdade da Contenda.

Em janeiro, arrancam os trabalhos relacionados com o fornecimento de energia elétrica. A meados de 2013, deverá arrancar a instalação das várias antenas que vão ajudar a rastrear o universo. 

Domingos Barbosa lembra que Moura não tem concorrentes à altura na Europa. «Não há outro local no nosso continente que tenha tanta exposição solar e tantas condições espetrais favoráveis», explica.

A futura estação de ensaios, que deverá ficar operacional no final de 2014, tem como objetivo testar as antenas e os múltiplos dispositivos que vão ser usados neste telescópio gigante que vai ficar disperso pela África do Sul e pela Austrália (países que vão albergar as 250 estações que compõem o SKA). Em paralelo com os testes de equipamentos, a Estação de Moura poderá funcionar como destino de peregrinação científica, podendo fornecer dados úteis a projetos de universidades, laboratórios e empresas de toda a Europa.

O projeto está orçado em 12 milhões de euros, que deverão ser aplicados na instalação de antenas e na manutenção da Estação de Ensaios durante o período de 10 anos de produção científica em condições ótimas. Em paralelo já foram garantidos, através de fundos europeus, seis milhões de euros para três anos de energia elétrica.

A candidatura tem sido liderada pelo Instituto de Telecomunicações e pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, e poderá contar em breve com o apoio da Universidade de Lisboa e do Instituto Superior Técnico. Também já foram assinados protocolos com a Câmara Municipal de Moura e com a empresa de tecnologias solares Logica EM.

Domingos Barbosa acredita que, em breve, haverá grandes empresas de telecomunicações e de tecnologias de informação que vão querer associar-se ao projeto.

...mas ainda faltam 100 mil euros

O perímetro de ensaios deverá ocupar mais de um quilómetro quadrado. Neste espaço, prevê-se que sejam instalados 10 conjuntos de 10 mil antenas. Cada conjunto ocupa um total de 144 metros quadrados cada, sendo que todas as antenas estão interligadas. No total, a nova unidade de testes deverá debitar uma média de 16 TB de dados por segundo. «O SKA vai ser o driver da indústria tecnológica durante os próximos dois ou três anos. E é natural que estes projetos se revelem atrativos para várias empresas», explica Domingos Barbosa.

Apesar de garantida a localização da Unidade de Ensaios em Moura, ainda falta saber qual a participação que os laboratórios e as empresas portuguesas vão ter nos vários projetos relacionados com o SKA. Para o efeito, os proponentes da candidatura terão de ver aprovada uma verba de 100 mil euros junto da Fundação para Ciência e Tecnologia (FCT) para poderem suportar os trabalhos relacionados com o mapeamento do local, e os requisitos técnicos de instalação dos vários dispositivos.

«Mesmo que não consigamos os 100 mil euros, a vinda da estação de ensaios para o Alentejo não fica ameaçada… mas para as entidades europeias fica a ideia de que as autoridades e as empresas nacionais não estão interessadas. O que torna mais difícil a participação nos diferentes projetos científicos», conclui Domingos Barbosa. 

O SKA é um radiotelescópio, que opera de forma similar à de um radar. O projeto que envolve vários países do mundo tem como principal objetivo reconstruir o Cosmos entre o período que medeia os 100 milhões de anos após o Big Bang e a atualidade (13 mil milhões de anos após o Big Bang). A UE não só vai financiar a sua participação como assegura a participação dos países africanos.

Durante 2010, a Herdade da Contenda teve em funcionamento várias antenas, que permitiam rastrear satélites no Espaço. Com a Estação de Ensaios de Moura, vão ser instaladas antenas de muito maiores dimensões. «O que já nos permite rastrear várias galáxias», informa Domingos Barbosa.


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